Poesia é vida
Acho que o primeiro
contato que tive com poesia foi no jardim de infância, nesses eventos de dia
das mães, ou algo do tipo. Provável que tenha sido a famosa “batatinha quando
nasce”... quem nunca? Mas, o primeiro contato consciente, que me fez ver que a poesia
não é coisa de gente velha, que não precisa ser composta só de rimas, ou ainda,
podia ser engraçada, foi por volta dos 15 anos. Não sabia de quem era, apenas
abri um livro e achei graça do que vi: uma poesia contruída na página, sem
justificação à direita ou esquerda. Depois de alguns anos, para fazer prova de
vestibular, li Glaura – de Silva Alvarenga – que adorei, e outro que me fez
entrar em extase: Distraídos venceremos, de Paulo Leminski. Assim, descobri que
gostava de poesia e puxando da memória, tentei descobrir qual poesia li aos 15
e me lembrei. Apenas guardei parte do nome, na época eu era bem mística e achei
oportuno ter aberto justamente naquela página: Incenso, incenso, incenso alguma
coisa, será? Opa! Isso é Leminski1. Redescobrir uma coisa de que se
gosta muito é como descobrir o motivo de ter vindo ao mundo, é como abrir As portas da esperança (ai que velha!).
Felicidade maior
foi descobrir Ferreira Gullar. Descobrir e redescobrir. A história com ele não
é tão antiga quanto com Leminski, mas também é de acasos. Trabalhando com
diagramação de livros didáticos vejo muitas coisas interessantes, algumas não
deixo passar e anoto logo para futura pesquisa. Ferreira Gullar entrou pra
lista. Pesquisando, encontrei a poesia que virá a ser tema do meu enterro2.
Escabroso? Que seja. Fui fazer uma matéria sobre semiótica na UEMG e o trabalho
final foi um breve estudo do livro Distraídos Venceremos, de Leminski. Queria
mostrar como a poesia poderia ter sido mais valorizada se tivesse sido feita em
outro formato, assim, encontrei um estudo completíssimo, maravilhoso, e
descobri o concretismo. Mais uma vez, me encontrei com Gullar e novamente me
apaixonei. Meses depois, novamente em uma diagramação, encontrei uma poesia
dele que gostei tanto que quis compartilhar3. Coloquei na rede,
postei no Facebook. Com essa modernidade da internet, tudo ao mesmo tempo, uma
colega, estudante da Escola de Belas Artes da UFMG, me atentou sobre uma
palestra que o próprio Ferreira Gullar iria dar na Faculdade de Letras naquele
dia. Extase novamente!
Lá fui eu, ver meu
ídolo de perto, o que acabou sendo de longe, pois o auditório estava tão lotado
que tudo teve de ser transmitido por um telão, para um público externo curioso
com o que esse senhor de 82 anos teria para nos contar. Se valeu? Claro! Não
sei quanto tempo durou, uma hora ou mais. Gullar contou sua tragetória como
escritor, como artista, crítico de arte, como construiu e desconstruiu a poesia
como ele a conhecia. Completamente adimirada, recolhi várias histórias incríveis,
que agora estão guardadas dentro de mim, mas a mais importante: qualquer um
pode escrever poesia. Prestando atenção, ela faz parte de mim há tempos, faz
parte do que sou, de como vejo o mundo. Quando me perco olhando o céu, à espera
de um pássaro qualquer, estou eu lá, fazendo poesia, aguardando uma imagem
única que traduza minha alma. Se disse Drumond que escrever é a arte de cortar
palavras, Gullar me ensinou que escrever é caçar palavras, que isso é um jogo,
que pode demorar pra sair, mas se você nasceu carregado com o dom, siga, pois
ele é seu! Gosto de escrever, não sei se agrado, mas, sinceramente, escrevo
apenas para perpetuar o que está dentro de mim, e quanto à poesia, não sei,
continuarei tentando...
1.
Incenso fosse música. Paulo
Leminski
2.
Um instante. Ferreira Gullar
3.
Traduzir-se. Ferreira Gullar
16 de maio de 2013
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