Ter para quê?

Sempre chega aqui em casa uns folhetos informando os lançamentos da Companhia das Letras. São folhetos segmentados sendo divididos para o público adulto, jovem e infantil. O infantil é uma graça, coloridinho e sempre muito bem feito como os outros dois. Fato é que eu nunca tinha parado para ver o folheto para os jovens, normalmente olhava o infantil para ter referências para um trabalho de design gráfico e conferir se algum lançamento seria interessante para minha filha. Agora, ela já vai fazer 13 anos e está naquela fase de sair da infância e ser moça, querendo ser ora um, ora outro. Um livro me chamou atenção: Carta de amor aos mortos. Deve ser um livro bom, interessante e acho que a intenção é que os pais leiam também pois, fala de ídolos que foram da nossa época. Bom, o livro conta a história de uma menina que passa a escrever cartas aos ídolos mortos, após a professora pedir em uma atividade escolar que os alunos escrevessem uma carta a alguém que já morreu.

No folheto tem a avaliação do autor do livro As vantagens de ser invisível (vi o filme e achei muito bom, nada bobo!). A avaliação dele é bem positiva e minha filha pediu para que eu comprasse o livro para dar de presente a uma amiga. Aí pensei: "Acho que ela vai gostar mais desse, é mais a cara dela". Após dois segundos de pensamentos correntes, repensei: "Acho que eu vou gostar desse livro, quero ler". O livro nem foi lançado ainda, estará nas lojas só no final do mês, mas olhei o preço R$29,00 impresso e R$20,00 e-book. "Opa! E-book é mais barato. - turbilhão de pensamentos - mas é um livro virtual, né? Eu quero ter o livro!"

Me dei conta do que pensei: ter. Mas se eu o tiver como e-book, o terei da mesma forma. Não?! Aí entrei numa outra linha de pensamento: é isso, enquanto as pessoas forem mais conectadas ao ter do que ao ser, realmente os e-books não farão tanto sucesso quanto se esperava. Quando a tecnologia do livro virtual apareceu, correram boatos de que os livros de papel acabariam de vez, que não precisaríamos mais acabar com as florestas para termos cultura e entretenimento literário! Uma biblioteca inteira caberia na palma da sua mão etc... realmente, cabe. Mas mesmo com o aumento de vendas dos livros virtuais, ele nunca substituirá o impresso. Para isso acontecer é preciso mudar a cultura de uma nação inteira, de uma era em que o capitalismo está incutido no berço, de que queremos algo sempre e, sempre mais novo, melhor e queremos mostrar a aquisição, e queremos ver, pegar. Mesmo que existam as pessoas que não querem acumular bens, que compre coisas usadas, que use o método da troca... mesmo. Estamos falando de pessoas que não se importam com o que possuem dentro, ou de pessoas que simplesmente não se deram conta disso, ou, se deram, ainda não conseguiram se desprender do prazer de cheirar um livro novo, passar as páginas, colecionar marcadores e ter uma estante colorida. 

Presente!

Comentários