01 - De passagem

Ela estava adiantada, ele atrasado. Ele perdeu o voo e teria que pegar o próximo, ela só estava com fome. Os dois, na mesma hora, no mesmo lugar. O café de um certo aeroporto em algum lugar do mundo. Dizem que aeroportos é terra de ninguém, eles nem pensavam nisso. Cada um só queria um café e algo mais para acompanhar. Sentaram-se próximos um do outro, sem perceber a presença de qualquer pessoa que fosse, nem mesmo a presença um do outro. Ela se sentou na mesinha redonda com duas cadeiras, a única disponível no local, ele, sem escolha, tímido que era, teve que se sentar com ela. Justo com ela. A sorte do destino, é que nenhum dos dois estava com pressa. O voo dela só sairia daí uma hora, o dele também. Ele pediu licença, arredou a cadeira, mas não se olharam. Sentou, deu um gole no café, resmungou que o trânsito caótico era o grande culpado da maioria das brigas de casal - era o que ele pensava - e, por acaso ele não tinha companheira alguma, mas o trânsito o fez perdeu o voo para uma reunião importantíssima. Ela nem se deu ao trabalho de ver o rosto do reclamão, continuou comendo o pão de queijo enquanto lia uma revista. Ele continuou dizendo que por causa desse atraso sairia daí uma hora, que era um absurdo os voos serem tão espaçados nos dias de semana, que "só queria chegar em Brasília, só isso". Coincidentemente, o destino fez ele se sentar na mesma mesa que uma companheira de viagem. Coincidentemente? Não, o destino é um ser, uma entidade, não gosta de ser contrariado e só para de agir quando atinge seu objetivo. Normalmente ele não erra, é fatal. Quase tão fatal quanto o olhar que ela lançou para ele ao perceber que ali estava um homem que ela jamais poderia esquecer devida tamanha coincidência, e, quando os olhos dele cruzaram o dela, o destino sorriu. Era ela, dali pra frente, o grande amor da sua vida.

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