11 - Bella coppia
Ela se vestiu da forma que ele gostava, meio femme fatalle,
com aquele vestido justo, preto, curto. Colocou um par de saltos vermelho e
antes de decidir a cor do batom, mandou uma mensagem pra ele, para ajudá-la a
escolher e, ao mesmo tempo, instigá-lo. A mensagem era simples e a resposta ela
já sabia: Batom vermelho ou clarinho? Vermelho. Assim ela foi. Delineador preto
nos olhos, mas nada demais. E era só. Talvez a maior dúvida tenha sido o modelo
da calcinha. Não queria parecer muito atirada, não queria que o bumbum ficasse
muito à mostra... sua auto-estima era baixa o suficiente pra se preocupar com
as celulites e a moleza do bumbum. Mas escolheu a mais cavada por não marcar no
vestido.
Quando ele chegou, ela quase já havia virado abóbora, era
tarde, e ela estava ansiosa demais pra ficar fazendo rodeios. Ele desceu do
carro e houve um choque. Ele estava muito esportivo pra ser visto em qualquer
lugar ao lado dela. Ele queria ser direto, como sempre era nas mensagens de
celular. Ela percebeu isso. Mas disfarçou perguntando onde ela gostaria de ir,
apesar de que estavam tão diferentes. Ela ainda brincou dizendo que ela
esperaria ele trocar de roupa. Ele disse ainda que pelo horário não teriam
muitas opções. Mas ela sabia que aquilo era apenas uma desculpa pra eles irem
onde ele queria, onde os dois queriam.
Durante o trajeto ele teceu vários elogios, dizendo até que
em outra vida ela deve ter sido uma celebridade. Falou sobre a produção
hollywoodiana, ela agradecia tudo e justificou que nem havia se maquiado tanto,
nem tomado tanto cuidado com a produção. Ele só olhava pra ela e dizia que ela
estava simplesmente maravilhosa.
Entrar num quarto cheio de espelhos, para a primeira vez íntima
dos dois juntos, era muito estranho para ela. Constrangedor. Ela logo pensou
que as luzes estavam fortes demais e que ele notaria todos os defeitos, das
estrias, das celulites e da gordura mal localizada em todo o corpo. Ele não se
intimidou. Ela sentou na beirada da cama, aguardando que ele tomasse alguma
iniciativa, deitou e ele saiu do banheiro, sentou ao lado dela e, como um
cavalheiro, tomou-a pela mão. Ela se envolveu rapidamente, deixou-se levar e
pediu apenas para ele diminuir a intensidade da luz. Ela esqueceu dos espelhos,
das estrias, gordura...
Ao final ela se deitou na beirada da cama, se viu no
espelho, nua e ele se encaixou por trás, dando um abraço reconfortante e ela se
sentiu tão bem como jamais havia se sentido com homem algum. Então, ela fechou
os olhos pra eternizar o momento e respirou profundamente. Depois tomou coragem
e olhou para o teto, queria ter uma ‘tomada’ por um ângulo diferente, ver os
dois deitados não a incomodou. Não achou
vulgar, não viu os defeitos no seu corpo. Ali ela viu um casal, não duas
pessoas deitadas, mas um casal, um bonito casal. Pensou que se fosse um quadro,
seria uma obra primorosa, viu harmonia e beleza ali onde talvez nem existisse o
sentimento que transparecia. Se surpreendeu sendo observada, como ele costumava
sempre fazer, e tudo o que ela queria saber, naquele momento, é se ele estava
enxergando o mesmo que ela.
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