Surreal 02

As pessoas geralmente olham pra mim e acham que eu estou lá para ouvi-las contar a história da vida delas. A maioria dessas pessoas me mostram fotografias. Sim, abrem a bolsa, a carteira, o álbum no celular e... foto! Quando estava na sala de parto tendo contrações, esperando o momento do parto em si, as enfermeiras ficaram conversando comigo sobre a vontade de fazerem tatuagens e etc., acho que foi aí que as portas do surreal se abriram. Na sala de parto haviam insetos, coisa praticamente impossível de acontecer devido a vedação da sala. Eles voavam na lâmpada me distraindo, amenizando minha dor e nervosismo. Assim que a pequena deu o primeiro suspiro fora do meu útero, os insetos sumiram. Então, basta eu estar num consultório, com ou sem fone de ouvido, lendo ou não um livro, que alguém se senta ao meu lado e começa a contar sobre os filhos, a mãe, o marido, o namorado... "quer ver uma foto dele? veja se eu não pareço que sou muito mais nova, e é justo o contrário". Ou a enfermeira que ficou cuidando de mim, aguardando o efeito da anestesia passar: Esta estava substituindo outra que precisou ir ao banheiro urgente. A substituta ficou cuidando também do celular da titular e me contou do namorado enorme que ela tinha, senegalês "Aqui a foto dele, tem várias no celular dela". Estou contando isso pra servir de introdução ao surreal nº 3. Aguarde.

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