14 - Um café, por favor

Todos os dias, mais ou menos no mesmo horário, ela saía do trabalho para tomar um café. Levava, vez ou outra, um livro para não ficar sozinha. Odiava ficar sozinha mas adorava não ter o que a prendesse em um lugar ou situação. Escolheu um café que ficava dentro de um hotel onde pessoas iam e vinham e não notariam sua presença, ou se notassem, pensariam que era só mais uma hóspede. Não só por isso escolheu aquele local, o mobiliário de madeira escura e o estofado velho nos bancos vintage faziam ela se sentir em outra época. Uma das coisas que ela mais gostava de fazer, além de tomar café e do seu ritual diário, era observar as pessoas e inventar personalidades e tudo o mais sobre elas. Perdia-se em olhares, toques, frases sem sentido, malas de rodinha. Cada pessoa que saía do hotel deixava nela uma história. Um dia, um livro na mão, um café na mesa. Outro café se aproximou do seu, sem ser convidado, um homem se assentou. Quase quarenta, ou mais um pouco, talvez. Um metro e oitenta? Ela não soube ao certo. Ele era um personagem, que a prendeu pelos olhos, pelos olhares intensos, perdidos, preocupados. Um homem de negócios? A passeio ele não está. Pois ele se assentou. Ele ficou curioso e quis saber o que ela lia, e por que muitas vezes, mesmo sem um livro nas mãos, sozinha ela ria. Observava ela há dias, justo quando estava fora do alcance de sua visão, de um ângulo em que ela não o enxergava. Ela que sempre observava, também estava sendo observada. Então, olhou para os olhos dele, finalmente, e, como sempre, inventou uma história.


Comentários