Antecipação

Quando chegar na frente é bom? Quando é ruim? Quando a gente percebe a diferença entre os dois?


Eu sou antecipada desde os 3 anos, quando minha mãe me colocou no jardim, no 1º período e na verdade eu deveria estar no maternal 3. O que aconteceu é que eu "tomei bomba" kkk A pedagoga chamou minha mãe e disse que eu não tinha me desenvolvido o suficiente para o 2º período, então eu saí do jardim e fiquei um ano em casa até voltar pro jardim, corretamente, no 2º período. Minha mãe não trabalhava fora, tinha a ajuda diária de uma pessoa que fazia da limpeza ao jantar e eu era a 3ª de 3 filhos (agora somos 4). Acho que ela só queria tempo pra fazer as coisas dela.

Ainda quando pequena, tinha uns 9 anos, lia a revista Marie Claire. Meu pai comprava pra ele ler e eu babava em absolutamente tudo. Pensava que se pudesse escolher trabalhar como jornalista, iria querer ser editora de uma revista como aquela. Foi ela que me fez gostar de moda e definir um estilo do qual eu sou mega fã até hoje, minimalismo. Procura aí o minimalismo na moda dos anos 90. Foi essa revista de adulto que me fez gostar de ler revistas, eu lia Capricho também, mas gostava muito mais delas e das revistas de arquitetura e decoração.

Então, desde pequena eu já sabia, de certa forma, que eu gostava de muita coisa e não saberia exatamente em que eu iria focar. Mas... coloquei na cabeça que faria arquitetura, seria arquiteta e é isso aí! A melhor arquiteta. Fazer casas grandiosas! Sonhava com casas e desenhava, com detalhes. Eu amava a ideia de poder fazer uma casa que fosse praticamente uma escultura. Ah, e eu era muito fã de Amilcar de Castro, enquanto minhas amigas falavam de Brad Pitt. Eu também falava dele, mas eu me ligava em coisas interessantes além de rapazes bonitos. Antecipada.

Chegou a hora de fazer o temido vestibular. Me antecipei e fiz vestibular para Psicologia, História, Farmácia, Belas Artes (não passei nem na etapa de aptidões), Pedagogia, Produção Editorial, Relações Públicas. Né? Ué, e arquitetura? Você vai dizer. Eu me antecipei e coloquei na cabeça que na prova de matemática eu não iria passar, iria ser um fracasso (o que de fato era mesmo em exatas) e por mais que eu estudasse e passasse, meu pai não teria condições de pagar um curso no Izabela. Meu sonho. Por fim, passei em Relações Públicas, no mesmo ano em que passei em Produção Editorial, curso que de qualquer forma, meu pai pagou e que só escolhi fazer por ser um curso interessante e o mais perto de casa. E o motivo da minha preocupação em ser perto de casa é que eu me antecipei, de novo, engravidei e não queria estar longe da minha filha tanto tempo e quanto mais longe, mais tempo eu teria que ficar longe dela.

Então, 18 anos depois, estou me antecipando e sofrendo com a distância que criaremos, eu e ela, minha filha amada, estudando em outro país, já que a facilidade da cidadania italiana proporciona portas mais abertas do que antes. Minha cabeça vai e volta. Vai no sofrimento e volta com o consolo: agora você pode ter 20 anos outra vez, fazer as coisas que não fez por ter pensado só nela e quase nada em você, inclusive um curso de arquitetura, quem sabe?! Hãn?! Hãn?! Já pensou? Quem tem essa oportunidade novamente?

Quem?

 

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