Energia do ambiente, será?

Eu acredito que alguns lugares têm energia diferenciada, que propiciam alguma coisa ou inibem outras. O Feng Shui explica muito disso e, apesar de gostar muito do assunto, nunca pesquisei nada a fundo.

E aí eu resolvi que seria minimalista (mais do que sou hoje) e também ser mais ecológica do que sou. Aliás, assisti logo no dia 1º de janeiro o documentário Minimalismo Já na Netflix, assista. Decidi fazer disquinhos de tecido atoalhado para substituir os de algodão que uso todos os dias pra fazer meus cuidados faciais... skin care que chama, né? Ok, esses disquinhos são chamados de removedores de maquiagem reutilizáveis. Joga no Gugou que vc acha um monte de DIY. Aí fui no quartinho da bagunça onde minha mãe coloca tudo o que ela possa querer e imaginar que algum dia, quem sabe talvez ela vá usar. Fui procurar uns retalhos de tecidos que eu sabia que estariam lá.

Entrei no cômodo, que fica na área externa da casa e estava com a porta aberta, como de costume. Da porta mesmo olhei por alto pra ter uma visão geral do ambiente e vi a sacolinha com o que eu queria. Estava sobre um monte de outras coisas num tampo de mesa improvisado. Estava de fácil acesso por terem sido lavados e passados há pouco mais de um mês. O cômodo tem partes da parede de alvenaria com a mesma pintura de mil oitocentos e bolinha e uma parede de tijolinho a vista com prateleiras de madeira, que estão sendo utilizadas como alimento pelos cupins há anos. Sobre minha mãe insistir em deixar o material de artesanato dela ali, eu converso outra hora.

Continuando, é um cômodo pequeno, com teto baixo e piso de cimento batido encerado. Uma parte da estante, que ocupa apenas uma das paredes, foi pensada para servir como mesa, sendo projetada para frente com mais profundidade que o restante. Antes de ser quartinho da bagunça, ali era a biblioteca do meu pai. Sobre a mesa em que hoje fica um monte de tudo e nada, ficava uma Remington, máquina de escrever bem pesada. Meu pai entrava ali e ficava lendo, possivelmente trabalhando também. Como jornalista, muitas vezes ele usava o tempo livre pra trabalhar. Ou pra escrever as coisas que devem estar em algum lugar que ainda não descobrimos. Pois bem, ali era a caverna dele.

Então eu avistei a sacolinha com os tecidos sobre a mesa improvisada e fui em direção, desviando das coisas separadas para doar ou dar jeito que estão empilhadas pelo chão, por todo lado. Peguei na sacolinha e ouvi um miado. Eita! Achei que o miado havia vindo de baixo da mesa. Me encurvei devagar e arrastei com cuidado as caixas com material para fazer velas. Achei que pudesse ter um gato na parte mais escura e escondida. Não tinha nada atrás das caixas e veio novamente o miado. Quando apenas virei a cabeça para a esquerda e vi a gata da vizinha. Ela tinha o costume de roubar a ração das minhas gatas e andar pelo quintal como se a casa fosse dela e estava prenha. Me levantei, e conversei com ela enquanto deixava ela cheirar a minha mão, pra ela ver que eu não iria fazer mal algum. "Gatinha, vai pra casa. Você não pode ter seus filhotes aqui", analisei o tamanho da barriga e comparei com a última vez que eu a vi e constatei "ué, você já teve seus bebês, precisa ficar com eles..." e fui interrompida por um miado e meu olho se voltou pra patinha dela. Um gatinho. Outro, outro e outro. Ela provavelmente teve a cria em outro lugar pois estava tudo limpo, sem resquícios de um parto felino e levou os filhotes para o lugar mais seguro que ela encontrou. A casa que não é a que ela mora.

Eu amo gatos, amo gatinhos e perdi a minha gata mais amável em dezembro do ano passado (2020 não foi fácil mesmo), mas não podemos ficar com a gata e esses lindos filhotinhos. Tenho uma gata ainda, a Tarsila, que precisa de muito cuidado pois é idosa e cheia de traumas. Ainda achando muito estranho a gata se sentir mais a vontade aqui do que na própria casa, onde tem outros filhos, inclusive. E muito interessante é que esse lugar, onde meu pai tinha as ideias geradas, já serviu de berçário para outras ninhadas. Minha gata Frida escolheu exatamente o mesmo lugar para ter seus filhotinhos da segunda ninhada, inclusive a gata que tenho hoje é parte dessa cria. A primeira ninhada ela teve em algum lugar em um dia chuvoso e levou os quatro filhotinhos para aquele mesmo quartinho. Eu estava na janela quando vi ela carregando um dos gatinhos pelo muro, a segui e encontrei os filhotes. Meu irmão tinha uma coelha que fugiu da gaiola para ter seus coelhinhos entre os livros do meu pai, picotando vários deles que estavam na parte mais baixa da prateleira para fazer seu ninho.

Se esse cômodo não tem energia criadora, eu não sei... talvez seja só o aspecto de caverna ou talvez seja a energia mesmo.

Foto de Sahand Babali no Unsplash


Comentários