15 - Amor de carnavais

Se conheceram durante uma festa de carnaval em uma cidade do interior. Ela não entendeu quando ele disse o nome dele e, provavelmente, se ele entendeu o dela, não lembraria depois. Ele não fazia o tipo dela, loiro e olhos azuis, mas ela gostou dele. Porém, alguém agiu mais rápido... Passou por ela e olhou, muito bêbado, como quem pede desculpas pelo acontecido.

Durante muito tempo foi assim, eles se viam durante o carnaval ou um feriado qualquer. Ele estava sempre olhando de longe, sem se aproximar e ela também não se aproximaria.

Um feriado ele apareceu com uma namorada e a relação dos dois parecia séria. Eles estavam entre outros três casais. Entrou no bar onde ela estava com alguns parentes e amigos e quando a viu ficou sem graça. Cutucou o amigo sem soltar as mãos da namorada. Se sentaram de costas pra ela, levantou algumas vezes pra pegar alguma coisa no balcão, saiu do bar, voltou. Então houve um movimento curioso na mesa dele. Todos trocaram de lugar. Ele foi pra parede, ficou exatamente de frente pra ela. A namorada se emburrou ou já estava emburrada antes da troca de cadeiras. Ela sentiu que  talvez pudesse ser parte da causa do problema e se levantou, ficou em pé na porta do bar conversando com uma amiga enquanto esperavam as outras.

Dois minutos depois ela sentiu alguém roçar o braço no dela e segurar sua mão esquerda. De leve. Segurou e soltou. Era ele. Parou a uns dois metros, de forma que a namorada não o enxergasse de dentro do bar. Ele pegou na minha mão, sussurrou pra amiga. As duas ficaram sem entender o que havia acontecido ali. Ela não estava em local de passagem, tinha espaço de sobra pra qualquer pessoa circular sem ter que se encostar nem nela nem no batente da porta, que era uma porta dupla. Ele se virou, olhou bem em seus olhos e foi pra mais longe, na beirada do adro* e de vez em quando olhava pra ela.

A outras amigas chegaram e então elas se assentaram de frente pro bar, do outro lado do adro, na escadaria ao lado da igreja. Deu tempo das meninas saberem da história e ficarem observando, entre risos e cochichos o que viria a acontecer. Torcendo. Conjecturando. O que ele está fazendo ali, pensando na morte da bezerra? Acho que a namorada vem buscar ele. Por que ele não vem logo? Não, ele vai voltar pro bar. Mas ele não para de olhar pra você! Ele vem pra cá, vocês vão fugir juntos. E mais risos.

Ele não só se virou várias vezes como pouco a pouco se aproximou dela ficando de frente. Ela e as amigas apenas esperaram. Ele não teve coragem. Quando estava bem perto, ainda de cabeça baixa, olhou pra ela "acho que fez algum sinal pra te chamar, hein!?". Não fez nada, se ele quiser vem aqui, eu não vou lá. Falavam como se ele não pudesse ouvi-las e ele não reagia. Olhou mais uma vez e foi andando vagarosamente de volta pro bar como quem desse tempo pra ela ir atrás dele. Ainda olhou pra trás mais uma vez, talvez para confirmar que ela não ia mesmo. Ela não foi. Ele entrou no bar e ela continuou com as amigas tempo suficiente pra vê-lo sair de lá de mãos dadas com a namorada, dando ainda uma última olhada. A última.


*substantivo masculino: ARQUITETURARELIGIÃO - pátio externo descoberto e por vezes murado, localizado em frente ou em torno a uma igreja; períbolo, átrio.

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