Uma corda atrás da porta não é só uma corda atrás da porta

Chichi Onyekanne on Unsplash


Tenho um amigo que é personal trainer e tem dito frequentemente sobre os maus hábitos que, especialmente, nós brasileiros temos. Essa mania de deixar pra amanhã ou de colocar a segunda-feira como data de partida.

Eu sou um pouco assim, com algumas coisas mas, já aprendi que dia de começar dieta é hoje e qualquer refeição é a primeira da dieta. Não, eu não faço mais dieta. Não desse jeito que todo mundo sabe e conhece, eu mudei meus hábitos e tento segui-los na maior parte do tempo. Porém, atividade física em casa nesse tempo de pandemia ou fora dele, sempre foi um problema para mim. Com a academia aberta eu levanto, me arrumo e vou. Tento fazer em casa, não, não gosto. Eu não gosto! Simples.

Então eu estava deitada na minha cama e olhei pra porta do meu quarto fechada. Atrás dela tem uma corda que comprei no primeiro mês de pandemia. As coisas não estavam fechadas ainda. A academia ainda estava aberta, comprei por pura prevenção, se por acaso a academia se fechasse. Se por acaso tivéssemos que ficar em casa como os italianos. Assim eu não teria desculpa para não me exercitar, já que as caminhadas na Lagoa da Pampulha também estariam comprometidas. 

A corda. Eu pulava quando era criança. Lembro que gostava apesar de não ser assim uma super puladora, como não era uma grande puladora de elástico mas pulava porquê gostava. Pulava até sozinha, com o elástico preso nas cadeiras. Sim, vários acidentes ocorreram. A corda, muitas vezes, a empregada aqui de casa amarrava no gancho de rede e ficava rodando pra eu pular. Eu pulava sozinha também, aquele pular infantil.

A corda... na academia tem uma atleta. Ela corre muito e ganha várias provas de corrida em terrenos diversos. Ela pula corda como uma atleta. Parece fácil olhando. Um dia eu falei com ela que queria tentar, já que eu havia pulado há tantos anos que nem sabia mais se sabia pular. Eu não soube. Foi um desastre. Ela riu e disse que era assim mesmo, que bastava treinar. Ela não zombou de mim, eu também ri. Me diverti com a tentativa frustrada. Tá, e mesmo assim você comprou uma corda para caso não tivesse outra saída, Graziela? Tá doida? É eu comprei. Me desafiei a aprender de novo, eu aprendi quando criança e isso significava que eu sabia, dentro de mim, eu sabia como pular. Mas a corda ficou atrás da porta, por mais de um ano! Eu tentei pular e não consegui e desisti. Tentei uma vez só, confesso.

Então meu amigo passou no meu feed chamando os preguiçosos de plantão na chincha. Eu que estava desligando meu notebook após um dia de trabalho, olhei pra trás e vi a corda na porta. Levantei da cadeira, peguei a corda e... pulei! Gente, eu pulei corda! Mas eu não sabia antes, como agora eu sabia? Eu acho que simplesmente mudei a direção que jogava a corda. Eu pulei.

Troquei de roupa, porquê eu precisava estar vestida a caráter e peguei a corda pra pular e feliz da vida dei 300 saltos. Óbvio que eu contei! Eu precisava contar. Não foi direto, eu pulava e quando cansava parava e muitos saltos foram frustrados, mas eu me diverti até sentir dor na costela. Então eu defini que aquilo era só respiração mal administrada e pulei até completar 300 saltos prestando atenção na minha respiração.

Amigos, o que teria acontecido se eu tivesse tirado aquela corda de trás da porta e tivesse guardado ela no fundo do meu armário? Eu teria me esquecido dela. Então, a corda ali, todo dia me lembrando de algo que eu precisava fazer foi mais do que um objeto para empoeirar, foi um chamado para que eu me desafiasse. Acho que demorou um pouco pra cair a ficha, mas caiu!

Aí eu te pergunto: O que você não fez por não ter conseguido na primeira tentativa e simplesmente deixou pra lá?! Te desafio a se desafiar com frequência a fazer essas coisas todas que deixou pra trás. Nós mudamos, nossa habilidades também e, vários miquinhos deixam de habitar nossa cabeça, o que facilita com que a gente consiga o que antes não conseguia. 

Atenção! Miquinhos novos invadem a nossa cabeça diariamente, toque-os antes que eles se apossem do espaço.

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