Só tô cansada

Victor Gabriel Gilbert

Enxaqueca é algo que eu sinto com frequência e pode ou não estar ligada a questões hormonais, fato é que ela vem sempre perto da época da menstruação e eu não tenho problemas em dizer isso. Mas me senti um pouco culpada com o que me ocorreu agora a pouco.

Estou no momento da enxaqueca latente, que quer vir mas os remédios impedem que ela se aflore. Mesmo assim eu não me sinto normal, minha vista não está normal e eu fico super sensível a sons e perfumes e claridade... é a enxaqueca.

Então me deitei (como sou sortuda de poder me deitar), fechei os olhos e tentei me concentrar no meu interior, pra isolar o externo e talvez, com isso, não perceber a presença da enxaqueca. Mas eu continuei ouvindo o barulho dos passarinhos lá fora, da janela que bate quando o vento assopra, o cachorro se lambendo e aquele ruído... aquele ruído. Aí eu me lembrei de um determinado momento no auge da pandemia em que eu me deitei à tarde, num desses casos de enxaqueca, e não ouvi esse ruído, a própria definição de silêncio ensurdecedor. O barulho que a gente não percebe que está lá pois ele vem crescendo de mansinho, não é algo que chegue de repente como um liquidificador que liga. É um barulho que começa e é sobreposto por outros similares e aos poucos vem chegando mais outros e  outros. É o barulho do movimento urbano. O tal ruído.

Aí eu me lembrei de como eu fiquei perplexa ao perceber que aquele barulho era inexistente.

E agora, me senti mal por querer que esse "não barulho" volte e isso significa tanta coisa que eu preferi me levantar e continuar sentindo a minha dor e escrever aqui essas coisas que podem nem fazer sentido. Mas eu precisa escrever.

É que eu só tô cansada mesmo.

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