Sobre o medo e envelhecer

Foto de Danie Franco na Unsplash


Estou fazendo parte de um grupo semanal de Escrita Terapêutica. Nesse grupo, a cada encontro a mediadora, que é psicóloga, propõe um tema onde começamos a escrever livremente, deixando a mente ir onde ela quiser. É surpreendente ver como um assunto sem julgamentos nos levam a caminhos dentro de nós que não conhecíamos. Depois de escrever sobre o tema coisas como “O que penso sobre...”, “Se não fosse...”, “O que posso fazer em relação a...”, lemos o que escrevemos e percebemos ali coisas que, ao escrever, não nos chamou a atenção, mas que no conjunto faz todo sentido e, muitas vezes, resume todo o sentimento. Quase um mantra.

Inclusive, sugiro que faça isso quando a cabeça estiver cheia, sem saber o que fazer sobre determinado assunto. Apenas pegue papel e lápis e vá escrevendo, jorrando palavras, sem se preocupar se tem vírgula, se está acentuado corretamente, se tem concordância... apenas escreva até esgotar o assunto ou aparecer a chave da questão. Isso acontece. Depois leia e grife as partes interessantes e medite sobre elas.

Então, voltando ao assunto, os últimos temas foram velhice e medo. No dia da velhice eu sabia bem o que iria aparecer e não fui surpreendida. Eu não tenho medo de envelhecer, acho que é um ciclo natural da vida. Inclusive, não vou pintar meu cabelo, não pretendo fazer nada de drástico em relação às minhas rugas e só acho triste se você não puder viver com plenitude, mas isso é triste em qualquer parte da vida. Minha única ressalva quanto à velhice é estar dependente financeiramente e fisicamente de outros. Aí aparece o medo, que é tema de outra semana.

Aí sim, nessa semana, em que o tema foi o medo, várias coisas apareceram enquanto eu escrevia e eu percebi que não trabalhei esse tema nos mais de 6 anos de terapia, pelo menos de forma direta. Eu sou uma pessoa cheia de medos que dirige bem, mas tem medo de dirigir onde nunca dirigiu, que tem medo de um monte de coisas que, se eu disser, você vai falar em seguida “que bobagem”. Mas não é bobagem, não pra mim, certo?

Crescemos com o medo sendo incutido nas nossas cabeças e, ao mesmo tempo, tendo nossos medos invalidados. Lembra aí de quando você era criança, depois quando cresceu um pouco e ficou adolescente. É medo atrás de medo. Depois julgamento atrás de julgamento quando dizemos que não fizemos algo por medo disso ou daquilo acontecer.

Então, nesse dia, tudo apontou para minha insuficiência ou a falta de autoconfiança, ou ainda, autossabotagem. E o tema era medo, hein?! Para você ver onde chega esse brainstorming. Não que o medo seja ruim, ele nos protege de muita coisa, mas também nos priva de sermos grandes, de sermos maiores ou melhores. De sermos diferentes, de conhecermos outras realidades, de realizarmos grandes sonhos ou pequenos desejos.

Então, não tenho problema com a velhice. Meu problema com o envelhecer é medo de não ser suficiente pra mim mesma. O problema só aparece por causa do medo e o contrário do medo é coragem.

Que não me falte coragem.

  

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